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A mostrar mensagens de novembro, 2003

Mulheres: As Italianas

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Quando falamos de Itália pensamos em Veneza, Da Vinci, spaghetti, o Papa, pizza, Miguel Ângelo, lasanha, Florença, Fellini, Dante. A Itália está em nós muito mais do que parece. E impensável o mundo sem alguma coisa que não tenha que ver com ela. Pertence-nos como pertence aos italianos. A culpa é deles por nos terem dado tanto. Tanto? Tudo. Até as mulheres. ACHO que não exagero ao dizer que o melhor cinema europeu foi, e talvez ainda seja, o italiano. Mas além das suas qualidades artísticas e das características que o fazem único, o cinema italiano ofereceu-nos uma galeria de mulheres tão extraordinárias, que seriam capazes de olhar de frente as suas rivais do grande cinema americano sem baixar os olhos. Querem umas temperamentais como Joan Crawford ou Bette Davis, Anna Magnani. Espiritual, chique como Grace Kelly ou Gene Tierney, Monica Vitti. Autoritária e sensual como Lauren Bacall, Silvana Mangano. O que diferencia uma actriz italiana de qualquer outra é também o que diferencia o

Rapidinhas Culturais

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A equipa editorial do blog K, estando atenta às conturbadas manifestações contra o aumento das propinas por parte dos estudantes universitários, resolveu dar uma ajuda a todos os que desejavam ir às aulas mas que, devido à universidade estar fechada a cadeado, não puderam. Este é o nosso contributo cultural para ajudar esses mesmos alunos... "Confrontados com o baixo nível das conversas da juventude portuguesa, decidimos dar o nosso contributo. Compreendemos que ninguém tem tempo e que, quando o há, temos coisas mais engraçadas que fazer do que ler um livro, por muito bom que ele seja. Ver vídeos, dar uma volta, embebedar-se, pecar em geral, são de facto actividades mais divertidas e mais rápidas. Por esta e outras razões pomos a nossa extensa cultura ao serviço de todos os ignorantes que nos lêem. Para poupar tempo e dinheiro aqui estão alguns tesouros da literatura universal em poucas linhas e ao alcance de qualquer besta. Marcel Proust . À Ia recherche du temps perdu . Paris,

Portugal vai ser tão bom, não foi?

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Ilustração: José Fragateiro Mais um excelente artigo de Miguel Esteves Cardoso , atestando o optimismo do início dos anos 90. Ele tinha razão: “quando a esmola é demais o pobre desconfia”. Mas para quem nunca soube, ou simplesmente, tenha reparado, nem sempre fomos um país de escândalos, de pedofilia, prostituição e corrupção. Já não estará na altura de termos umas merecidas tréguas? As nossas costas necessitam urgentemente de folgar... “C H E G O U a Primavera e é-me difícil reprimir esta exclamação, que pode ser irritante para os pobres, desempregados e idosos, que reflecte com certeza uma visão parcial da realidade, e que atesta o meu alheamento de tudo o que é importante e verdadeiro neste mundo; mas têm de me desculpar, porque rebentarei se não puder aqui desabafar: Olhem que bem que se está em Portugal! Será da estabilidade? Será das novas medidas de crédito para habitação? Será do regresso do camarão vermelho à costa do Estoril? Será por termos ganho a guerra do Golfo? Será por

Forçosamente Livres

«A crise do Ocidente tem de inédito o facto de ser, no fundo, uma crise da filosofia. (...) A inverosimilhança e a decrepitude teóricas são, como todos sabem, o fulcro do mal-estar da União Soviética. E o Mundo Livre não fica muito atrás.» ALLAN BLOOM, The Closing of the american mind NUM debate recente sobre a condição cadaverosa do regime democrático-totalitário cubano (1), voltou a falar-se na tese Fukuyamiana do «Fim da História». De tanto citada, arrisca-se esta a parecer uma doutrina póstuma. Mas não é. Para muitos eggheads de Washington, D.C., trata-se de uma das primeiras bases teóricas do neoliberalismo triunfante. Colocando no mesmo saco o pan-historicismo idealista e materialista, Fukuyama diz simplesmente que uma ideia política, o liberalismo , e um sistema político, a democracia , - triunfaram sobre os seus arqui-inimigos e arquétipos negativos, o comunismo e os regimes do chamado socialismo real . A história como dialéctica de experiências teria assim acabado - «por ago

Porque correm os homossexuais? (Parte 3)

E ei-Ios que se lançam de novo em mais uma corrida. Desta vez a fuga. O medo. O vírus da SIDA - associado directamente pela castradora mentalidade cristã ao castigo das práticas altamente promíscuas no seio da comunidade gay - fá-Ios correr. Novamente são os primeiros: a ser escorraçados, apontados, identificados como potenciais portadores do vírus fatal. Mas essas histórias já todos conhecemos. Nos últimos cinco, seis, sete anos, têm enchido jornais, revistas em todo o mundo, têm pregado ao sofá da sala famílias inteiras. A homossexualidade volta à boca do povo, Satanás cai sobre S. Francisco e aquela que já tinha sido considerada como "paraíso gay" parece simbolizar agora a terra onde o "castigo de Deus" - "God is gay", a famosa frase que nos anos 70 se escrevia nas paredes de Manhattan, parecia ironia aos olhos dos pragmáticos cristãos - mais se fez sentir. Mas o que é que havia - e há - de novo em tudo isso? Nada. A homossexualidade, como escreveu Regi

Porque correm os homosexuais? (Parte 2)

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Fotografia: Inês Gonçalves Após a revolta, a crítica. Ou: com a revolta, a crítica. Como diria Foucault, talvez os homens não inventem muito mais na ordem das proibições do que na dos prazeres. Na homossexualidade, as combinações são múltiplas. Os prazeres constantemente rebuscados, as proibições palavra-de-ordem para a sua essência. Um pouco como a criatividade, a homossexualidade vai a par com a censura: quanto mais a segunda existe, mais a primeira é pensada e reinventada. Como se precisassem de um inimigo, da eleição de um inimigo comum, para merecerem toda a genialidade da sua génese inicial. Na antiguidade clássica, o amor dos homens pelos rapazes (os paidika) era uma prática "livre", no sentido em que era não só permitida pelas leis, como também admitida pela opinião. Possuía cauções religiosas em ritos e festas onde se interpelavam, a seu favor, as potências divinas que deviam protegê-lo. Enfim, como diz Foucault na História da Sexualidade, "Era uma prática cultu

Porque correm os homosexuais? (Parte 1)

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Foto: Inês Gonçalves V I V E M em duplas existências, em caminhos paralelos, cheios de duplicidades, de duplos sentidos. Cliché? Certo, os gays portugueses resumem-se ainda a um enorme cliché de identidade ora exuberante, ora fechada em silêncios ou sussurros, ora em pequenos guetos com bandeiras culturais. Não correm a caminho de manifestações anti-rácicas Avenida da Liberdade abaixo, não se reúnem em parques ao domingo à tarde para debater violências e discriminações homofóbicas, não promovem abaixos assinados contra separatismos sexuais, morais, políticos que os afectem enquanto entidade sexual. Há dez ou onze anos atrás, levantaram a perna e parecia que alguma coisa ia acontecer. A revolução política ainda estava fresca nas memórias, o momento parecia indicado para se tomar posição e destaque hastear a bandeira da homossexualidade lusitana. Em Braga falava-se da primeira associação gay, em Lisboa preparavam-se os primeiros encontros - e julgo que os últimos -, em Janeiro de 81, do

Coisas para fazer com o "Público" que não consegue ler

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RESUMO: Não conseguir ler o "Público" não é vergonha nenhuma. Com jeitinho e paciência até que é um bel jornal! in K nº 4 , Delírios: Coisas para fazer com o "Público" que não consegue ler , Janeiro de 1991

Doce palavra vingança

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O problema é que se vive a mania da civilização, com tudo o que a ela está pegajosamente agarrado: a dentadura sorridente tem de estancar a fúria, as discórdias têm de ser esquecidas nos locais de trabalho porque senão a cotação da bolsa desmaia, a música tem de se ouvir baixo porque há vizinhos em cima, os namoros acabam-se com prendas em vez de tiros, e por aí fora numa insensatez humana que não faz sentido nem aproveita ninguém a não ser o abstracto bem estar social que nos oprime. Quem se enfurece tende a acalmar o tumulto que alguém lhe colocou no corpo. Acontece que não é fácil descobrir em nós onde se situa essa semente de vingança que nos definha e nos mata pouco a pouco: se nos olhos porque ver quem nos quer mal é o pior de tudo, se na memória porque as recordações daquilo que o inimigo nos fez nos aniquila aos poucos, se nos ouvidos porque ouvir falar dele é doloroso, se noutros cantos escuros do nosso corpo que ainda se sentem traumatizados apesar de já ter passado algum tem

O Barbeiro

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Fotografia: Pedro Cláudio A MAN'S gotta do what a man's gotta do», diria John Wayne ou outro como ele. A frase parece redundante, mas não é; e o pior é que está a cair em desuso. Hoje, os homens já não fazem o que têm de fazer, mas o que pensam que toda a gente faz. Mais grave ainda: vão onde toda a gente vai, mesmo que isso signifique ir a um «cabeleireiro unissexo». Das modernas perversões, não consigo imaginar nenhuma pior do que os cabeleireiros unissexo. Não é só a perda de mais um universo masculino - é o abandalhamento de um ritual de iniciação. Ir ao barbeiro desde menino, acompanhado pelo pai, é um dos hábitos mais saudáveis para a educação de um rapaz. Logo em pequeno aprende a conviver com conversas sobre mulheres, política e futebol enquanto é acarinhado por aquele que, a partir desse momento mágico, irá ser o seu barbeiro. Ao longo dos anos, o barbeiro torna-se cúmplice na vida do adolescente: fala-lhe dos estudos, da vida, conta anedotas, pergunta-lhe como estão o