Vidas Perdidas
Por Miguel Esteves Cardoso VOU falar da coisa mais triste do mundo, mais triste do que a morte, mais triste do que a memória, mais triste do que a tristeza. Não tem nome. Mas é fácil de descrever: é o conjunto de todas as coisas que podiam ter acontecido e não aconteceram. É a vida vinte vezes maior que a nossa vida. É a soma de todas as oportunidades perdidas, de todas as alternativas não-escolhidas, das pessoas que não chegámos a conhecer melhor, dos tempos que não passámos, dos sítios aonde podíamos ter ido e não fomos, dos filhos que não tivemos, da pessoa que mais amámos, das noites que não partilhámos com os nossos amantes, com os nossos amigos, com o nosso sangue. Esta tristeza não vem de um acaso. Não dói imaginar o que se perdeu sem saber o que se perdia. Nasce da consciência que todas as nossas escolhas acabam por ser interrupções. Os meus pais vão morrer antes de mim, as minhas filhas vão crescer enquanto eu envelhecer, e nunca hei-de recuperar o tempo que não passei com