O tédio fim-de-século



Onde estão os novos pensadores, os novos pintores; os novos políticos, os novos valores, os novos comportamentos? Onde está a novidade? Em lugar nenhum. Acabou-se. Agora e sempre a mesma coisa. As mesmas caras. Os mesmos nomes. As mesmas modas. Está tudo velho. E não é só em Portugal. O século está a cair de podre.

Há revivalismos retros, classicismos nouveaux, pós-ismos, eclecticismos generosos, pluralismos transdisciplinaridades, novos niilismos e tudo o que se quiser. Toda a tradição existe hoje na sua versão neo. Ate o rococó voltou na sua versão néon. Há neo-tudo. Só não há é novidade. Tudo está por redescobrir, mas nada há pura e simplesmente para descobrir.

Onde está a vanguarda? Onde está a ousadia? Onde está a originalidade? Restam apenas as anedotas. Em Lisboa, por exemplo, anuncia-se a construção de um Museu da «Modernidade».

O mês passado a K foi criticada, bem ou mal, por ter inventado uma nova geração de portugueses. Fizemos abertamente o que é costume fazer inconscientemente. A Imprensa vive da novidade, de caras novas, das coisas desconhecidas. Quando elas não se impõem só por si «inventam-se». Empolam -se. Exageram-se. Da-se-lhes «a volta». É o que mais se faz hoje em dia.

Nos distantes anos 80 havia novos e novidade. Tornaram-se nos cansados clássicos de hoje. Continuam a ser bons, mas cansaram-nos. Os jornais explicaram-nos e espremeram-nos até à última gota. A culpa não é deles. Onde estão os novos para substituir? Onde está a nova musica, a nova escrita, a nova política, o novo jornalismo?

Estamos velhos. Estamos tão velhos que até já chegamos à arrogância de dizer que já está tudo visto e que o novo não existe. Foi sempre assim durante os períodos de grande crise. Nas vésperas das revoluções. Antes do novo mesmo novo, brilhante e assustador, vir

in K, nº 5, Fevereiro de 1991

Comentários

Ismael disse…
Aqueles que nasceram nos anos 80 ouvem Nirvana e lembram-se - não da juventude,mas da infância. A revista Kapa é um pouco assim. Textos c estes são o puzzle que faltava.

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