Instituições: O Bilhar

Fotografia: Mariana Viegas


Chegou o tempo de agir. Espalhados por esse mundo, grupos de homens adultos, liderados pelo neogrunho Robert Bly, dançam ao som de batuques, erguem falos de madeira, perdem-se na floresta, discutem o yin e o yang e o conceito do Novo Homem. Deste hippiesmo mal assumido e recauchutado dizem ser o futuro do sexo masculino. É preciso pensar. A male-bondage ideal é a que primeiro é feita de pai para filho, e depois em instituições saudavelmente criadas para o efeito. Para o verdadeiro equilíbrio masculino encontramos por exemplo os bares, o barbeiro, o alfaiate ou as salas de bilhar. O bilhar é o mais nobre dos jogos. Notem, par favor, como digo jogo e não desporto. No bilhar não há competição gratuita nem fatos de treino. É um concurso de perícia e inteligência e pode-se (deve-se) jogar de smoking, é uma actividade palaciana que dá tanto prazer a quem o joga como a quem vê jogar. Permite conversar, beber e fumar. É perfeito.


Pode-se não gostar muito da França, mas é preciso agradecer-lhe a invenção deste jogo. As primeiras carambolas foram dadas no chão, com bolas bastante maiores do que as utilizadas actualmente. As mesas e as primeiras regras surgiram por altura do reinado de Luís XIV, e a partir daí ganharam grande popularidade nos meios aristocráticos. Mas os grandes praticantes surgiram nas salas de bilhar situadas em cafés e outros lugares públicos, onde os verdadeiros grupos masculinos se reuniam sem preocupações de identidade.


O jogo de bilhar tem diversas modalidades: a partida livre, o jogo de quadro (de 47 ou 71 centímetros, a 1 ou 2 golpes) e os espectaculares jogos por tabelas. Observar um bom jogador de bilhar a três tabelas é ver poesia em movimento.


A mesa de bilhar e uma peça lindíssima. Os puristas jogam sobre uma superfície de ardósia (espessura mínima de 45 mm), coberta pelo pano verde. As tabelas laterais são feitas de caotchouc e têm uma altura de 36 a 37 mm. A madeira que as cerca deverá possuir incrustações de embutido (diamante), colocados em intervalos regulares. Admite-se que a marca do construtor da mesa possa aparecer nessa superfície, mas longe das incrustações. A mesa de bilhar ideal devera possuir um termóstato que elimine a humidade das ardósias e dos panos, mantendo-os a uma temperatura constante de 25°c. As bolas são preferencialmente de marfim, com um diâmetro de 61 mm. São três: duas brancas e uma vermelha. O objectivo do jogo é efectuar o maior número de cara bolas possível. Isso acontece quando a bola do jogador toca nas outras duas, e devera ser feito de acordo com a modalidade que se está a jogar.


Os homens portugueses não têm desculpa para não jogarem mais bilhar, a não ser a escassez de salas em condições. Mesmo assim, Portugal tem boas tradições bilharistas, e actualmente o dr. Jorge Theriaga é o 8º no ranking europeu e 18º no mundial, é um exemplo a seguir.


O bilhar (com as suas variantes snooker e pool ou eight bal) é um jogo masculino. Não é misoginia, é verdade. As mulheres, infinitamente superiores a nós em outras coisas bastante mais importantes, não sabem pegar num taco. Ficam feias, desajeitadas. Sujam-se de giz e aborrecem-se de morte. Rasgam panos e acham graça. As salas de bilhar são dos pouco universos sérios que ainda nos restam, para desabafarmos angústias e alegrias entre carambolas.


por Nuno Miguel Guedes (Agradece-se a colaboração da Federação Portuguesa de Bilhar)

SALAS DE BILHAR LISBOETAS

AS MELHORES:
Ateneu Comercial de Lisboa
Sport Lisboa e Benfica
Snooker Clube (variante snooker e eight ball)
Associação Lisbonense dos Amadores de Bilhar

EM DECLÍNIO:
Jardim Cinema
Emecê
Rialto

MORTAS, MAS NÃO ESQUECIDAS
Café Monte Carlo
Café Gelo
Café Palladium
Café Chave d'Ouro
Café Colonial
Café Império
Cervejaria Portugália

Comentários

Meu Deus! Há tanto tempo...E eu que vim de um fim de semana bilharista com o meu pai, na Casa de Tomar... Metade dessas salas já não existem ou estão degradadas, o que é pena. Obrigado pela lembrança.
Um abraço,
Nuno Miguel Guedes
Unknown disse…
Estamos aqui para isso.

Grande abraço,

K
Anónimo disse…
Cara, pelo serviço do google achei o seu blog, estava procurando por descrições sobre o ecstasy. É que pela primeira vez tomei a droga numa balada do Rio de janeiro e, agora, de volta à Salvador, tenho sentido leves tonturas. Mas quero lhe parabenizar. A sua descrição foi perfeita. Me identifiquei muito. Principalmente com a parte inicial, que é péssima, e que inclusive me levará a evitar a tomar a droga de novo. Quando você falou do hospital, parece ter lido os meus pensamentos.
De qualquer forma, é excelente.
Assim como os seus escritos.
Parabéns.
Geraldes Lino disse…
Estou a visitar este blogue pela primeira vez. Li o que o bloguista diz acerca das teatralidades a decorrer em Almada (gosto de Teatro, no mês passado fui duas vezes: uma à "Casa Conveniente", no Cais do Sodré, outra ao grupo "Negócio", no Bairro Alto, boas companhias de teatro alternativo):
li também o que o bloguista contava (fez pesquisa, claro)acerca de bilhar e do derivante "snooker" (prefiro, exige na mesma perícia e é mais divertido). Curiosamente, ainda ontem estive a jogar no "snooker club", ali entre o Parque Mayer e a Praça da Alegria). E lamento corrigir as indicações sobre locais em Lisboa: o excelente, amplo e clássico espaço que se chamou, em tempos idos, "Jardim Cinema", é agora um armazém tipo chinês (ou indiano, não entrei, desgostoso)de vestuário.
Mas ainda falando de bilhar, já em tempos me ocorreu criar uma rubrica de "Bilhar e Snooker na Banda Desenhada", no meu blogue http://divulgandobd.blogspot.com
Confrade bloguista: parabéns pelo teu blogue.
pedro disse…
Adorei a descrição da mundividência do bilhar. Tudo se mantêm como descrito, excepto o fumar e beber (durante as provas)!

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